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Vinícius Marciotto dos Reis


Havia um demônio... E isso é tudo.

Não haviam histórias ou fatos que o designavam tal nomenclatura, não atormentava algum humano ou subsistia nas sombras de alguém sugando sua vitalidade.
Havia um demônio, e isso é tudo.

Seus olhos eram negros e despertos feito duas grandes jabuticabas, seus cabelos de tal mesma negritude, sua voz ríspida e grave, mais assemelhava-se a um lamento.
Havia um demônio, e isso é tudo.

Negar sua existência seria uma bobagem evidente, mas aceita-la seria ainda pior. Fechavam os olhos ao teu passar, quando na verdade o próprio abria mão de sua visão.
Apenas vagava.

Portanto, homens jogavam-lhe pedras e apontavam-lhe suas estacas, erguiam tochas e gritavam-lhe ofensas, enquanto o mesmo apenas sentia tais dores, sem saber o que de fato as proporcionavam.
O demônio nada via, mas, se sim, provavelmente viria a cometer um ato pecaminoso e demoníaco.
Nunca tais homens pararam para ver a brutalidade de tal fera blásfema e depravada, e nunca deveriam faze-lo.
Alguns poucos perguntavam-se se era possível haver um espírito naquela carcaça maligna, mas não haviam evidências, tudo que havia, era um demônio, e isto era toda a história.

Um dia, o demônio ousou ver, ao ouvir ruídos que assemelhavam-se à vociferação de dor, a criatura aproximou-se. Sentia algo naquela vasta escuridão que não podia identificar, mas teorizava, talvez, fosse pureza.

Ao tocar tal ser que sofria, o mesmo se fez visível por alguns minutos, mas, como reação ao seu singelo "tá tudo bem?", desprovido de qualquer intenção macabra, recebeu o grito de horror habitual que presenciava em todo seu cotidiano. Agora, via com clareza, várias pessoas invadirem a rua que estava. A criança que tocara, agora pedia socorro, enquanto as dores anteriores retornavam ferozes. Pedras esmagavam seus olhos de jabuticaba, tochas queimavam seus cabelos negros, os buracos que as estacas faziam em sua pele, despertavam os gritos ríspidos e graves que agora, mais do que nunca, assemelhavam-se a lamentos.

Este é o final da estória. Não, não houveram fatos, não houveram morais, heróis ou donzelas em apuros. Houve um ser que vivia na escuridão, apedrejado e odiado, no fim, assassinado, ao tentar tocar a luz do pecado original.
Aquele, foi chamado de Mal. Aquele, foi eliminado, sem direito a questionamentos.
Houve um demônio. Ele foi morto. Isso é tudo.


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